domingo, 17 de novembro de 2013

Dia Mundial da Filosofia 2013

O Grupo de Filosofia da Escola Secundária de Alberto Sampaio comemora, no próximo dia 21 de novembro, o Dia Mundial da Filosofia, com três workshops e uma representação do Mito de Sísifo.
Os workshops têm a colaboração da Universidade do Minho e da Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática. A representação do Mito de Sísifo estará a cargo dos alunos do curso profissional de Interpretação e será seguida de debate moderado pelo professor José Miguel Braga, da ESAS.
Os cartazes de divulgação estão aqui: http://www.esas.pt/dfa/.



sábado, 16 de novembro de 2013

Experiências mentais

Uma boa maneira de filosofar consiste em recorrer a «experiências de pensamento», um método clássico que faz parte do equipamento básico do filósofo; em suma, o seu tubo de ensaio ou uma das chaves da sua caixa de ferramentas. Uma experiência de pensamento é uma situação imaginária extrema que permite ilustrar ou comprovar uma crença metafísica e que, por não sofrer qualquer condicionamento, força o pensamento a ir até ao fundo de si mesmo, até ao extremo dos seus limites. É preciso, no entanto, ter atenção: as experiências de pensamento não são «provas», e acontece que nem sempre constituem argumento. A tendência é imaginar aquilo em que acreditamos. O que é imaginável ou concebível não é necessariamente realista ou realizável. O interesse das experiências de pensamento é, ainda assim, bem real: denunciar as nossas ilusões, escapar à caverna das nossas crenças familiares.

Ferret, Stéphane (2007). Aprender com as coisas – Uma iniciação à filosofia. Porto: Edições Asa, p. 10.

domingo, 3 de novembro de 2013

Racionalidade instrumental, racionalidade teórica e racionalidade prática

O que é ser racional? De quê ou de quem afirmamos a racionalidade?  De pessoas, ações, pensamentos, crenças? Onde podemos ir buscar uma primeira definição operacional de racionalidade,  um ponto de partida para uma investigação?
Antes de olharmos um pouco para a história do problema da racionalidade e para o seu tratamento na literatura, procuremos nas nossas intuições: veremos que começar pela definição instrumental de ‘racionalidade’ é a forma natural de começar. Tendemos a qualificar como ‘racional’ o que se passa em circunstâncias deste género: temos um agente que crê determinadas coisas, tem determinados desejos, e que em função dessas crenças e desejos age de forma a obter aquilo que pretende, de forma a desencadear o estado do mundo que corresponderá à satisfação dos seus desejos (por exemplo, alguém que espera uma mensagem importante, deseja avidamente lê-la, crê que essa mensagem acabou de chegar, e dirige-se imediatamente à caixa do correio para a ler). Aquilo de que estamos a falar quando qualificamos como racional o comportamento desse agente é de uma ação apropriada a uma dada finalidade, da seleção e mobilização de meios com vista a um determinado fim (os fins do agente são relativos àquilo que ele deseja, e os agentes chegam supostamente à situação de decisão já munidos de de­sejos). Não chamaríamos racional ao comportamento do agente se este, esperando uma mensagem importante, desejando avidamente lê-la, acreditando que a mensagem acabou de chegar, em vez de se dirigir imediatamente à caixa do correio fugisse desta a sete pés (convenhamos que isto pode perfeitamente acontecer — o funcionamento das crenças e desejos de agentes humanos não é nada simples).
A definição de ‘racionalidade’ que acabei de avançar é a mais consensual e comum. Corresponde à chamada definição instrumental da racionalidade, que nos diz o que é racionalidade na ação. A definição instrumental pode ainda fazer referência a processos mentais (crenças, desejos) envolvidos num processo de controlo da realidade por parte de um ser inteligente. Se há alguma coisa quanto à qual as pessoas que falam de racionalidade estão de acordo é a definição instrumental de racionalidade. […]
[A] racionalidade teórica é racionalidade nas crenças. Em princípio […] as nossas crenças são racionais se temos boas razões para as sustentar e se são fiáveis […] na forma como representam o mundo. […] Quanto à racionalidade prática, ela é racionalidade na ação, e o raciocínio prático é o raciocínio que eventualmente afeta planos e intenções do agente e resulta numa determinada decisão que conduz à ação.
[…] A questão básica da racionalidade teórica é saber em que devemos acreditar.
[…] A questão básica da racionalidade prática é saber o que devemos fazer.
Em ambos os domínios, racionalidade nas crenças e racionalidade na ação, há espaço para a irracionalidade: são casos de irracionalidade, acreditar no que não temos razões para acreditar, não acreditar no que temos razões para acreditar, não fazer o que queremos fazer, acreditamos que devemos fazer e temos boas razões para fazer, fazer aquilo que acreditamos que não devemos fazer […].

Miguens, S. (2004). Racionalidade. Porto: Campo das Letras, pp. 47-52.

Link para o texto com questões: http://pt.scribd.com/doc/181358934/Racionalidade-instrumental-racionalidade-teorica-e-racionalidade-pratica

Filosofia da ação

Os filósofos chamam teoria da ação, ou filosofia da ação, a uma área da filosofia em que se procura analisar (i) em que consiste uma ação, i. e., o que é que faz com que eventos, acontecimentos no mundo, constituam ações de agentes, e (ii) em que consiste ‘explicar’ uma ação, nomeadamente através de razões fornecidas pelo agente. Parte do interesse desta dis­cussão é vir a saber o que constitui atividade e eventualmente responsabilidade de agentes, o que é e o que não é deliberado nos comportamentos de humanos. Imaginemos uma situação concreta: uma pessoa A tem um revólver na mão, acontece um disparo, acontece algo à pessoa B que está uns metros à sua frente, ela cai morta. Pelo menos duas coisas diferentes podem aparentemente ter sido o caso: A pressionou o gatilho com a intenção de matar B, e B morre de facto ou deu-se o acaso infeliz de um movimento incontrolado do dedo de A fazer o gatilho disparar, provocando a morte de B. Poderá a diferença entre as duas situações dever-se a algo que se passa (ou não se passa) no interior do agente, e que terá a ver com entidades mentais como intenções e razões? […]
Vejamos um novo exemplo. Pense-se na seguinte diferença: vemos um vaso de flores que cai de um segundo andar em cima da cabeça de alguém que passa na rua. Uma opção: o vento fez com que o vaso caísse. Outra opção: alguém contratado para matar a pessoa que passa na rua empurrou certeiramente o vaso. Não diríamos que se trata de uma ação em ambos os casos, mesmo que um registo filmado do vaso que cai e mata o transeunte nos mostrasse exatamente ‘a mesma sequência de eventos num e noutro caso’. O que é que faz com que num caso falemos de ação mas não no outro?

Miguens, S. (2004). Racionalidade. Porto: Campo das Letras, pp. 93-95.

Link para o texto com questões: http://pt.scribd.com/doc/181358042/Filosofia-da-acao